28.10.10

O Som do Silêncio

Olá escuridão, minha velha amiga,
Eu vim para conversar com você novamente,
Por causa de uma visão que se aproxima suavemente,
Deixou suas sementes enquanto eu estava dormindo,
E a visão que foi plantada em minha mente
Ainda permanece
Entre o som do silêncio
Em sonhos agitados eu caminho só,
Em ruas estreitas de paralelepípedos
Sob o halo de uma lamparina da rua,
Virei minha gola para (proteger do) frio e umidade
Quando meus olhos foram esfaqueados pelo flash de uma luz de néon
Que rachou a noite
E tocou o som do silêncio.

E na luz nua eu enxerguei
Dez mil pessoas talvez mais.
Pessoas conversando sem estar falando,
Pessoas ouvindo sem estar escutando,
Pessoas escrevendo canções que vozes jamais compartilharam
Ninguém ousou
Perturbar o som do silêncio.

"Tolos", digo eu, "vocês não sabem
O silêncio como um câncer cresce.
Ouçam as palavras que eu posso lhes ensinar,
Tomem meus braços que eu posso lhes estender."
Mas minhas palavras como silenciosas gotas de chuva caíram,
E ecoaram
No poço do silêncio

E as pessoas se curvaram e rezaram
Para o Deus de néon que elas criaram.
E um sinal faiscou o seu aviso,
Nas palavras que estavam se formando.
E o sinal disse "As palavras dos profetas

Estão escritas nas paredes do metrô
E nos corredores dos conjuntos habitacionais"
E sussurraram o som do silêncio
 
............ Paul Simon

17.9.10

dor

tristeza dói. literalmente. e quando alguém disser isso, acredite. ela ultrapassa os limites do corpo e passa a se tornar física quando não cabe mais no coração, na alma, nos pulmões, ou seja lá de onde ela vem.

10.9.10

sobre tragédias e afins

never choke on the lie, even though he's the one
who did this to you, you never thought to question why.
perfect circle - judith


você não sabe o que é ter uma tragédia. não busque uma. você não vai querer de verdade quando ela estiver na suas mãos.
eu não acredito em deus, mas rezo para que ele conserve sua alma.

eu não vou deixar você me amar.
venha, sente-se comigo para observar a lua no último andar de um prédio bem alto. eu vou sair de você antes que a lua desça.

porque você não sabe o que é ter uma tragédia nas mãos.

9.9.10

penso.

certa vez uma amiga me disse: “você pensa demais. isso ainda vai te gerar um tumor no cérebro.”

o tumor não saiu, e eu continuo pensando. eu penso no amor que eu queria ter. eu penso no sexo que eu queria ter (eu penso até na força das mãos que me segurariam durante o sexo que eu queria ter.). eu penso sobre as condições sociais. eu penso em como a propagando política está ridicularizada hoje em dia. eu penso em parar de fumar. eu penso em não querer parar de fumar. eu penso em como ganhar mais dinheiro. eu penso em como não fazer esforço para ganhar mais dinheiro. eu penso nos meus amigos (e em como eu me afastei de algum deles.). eu penso no meu antigo amor (e em como eu ainda o amo, tanto.). eu penso em alguém que me ama. eu penso em nunca mais amar ninguém. eu penso em praticar algum esporte. eu penso na preguiça que me dá só de pensar em praticar algum esporte. eu penso em como parar de pensar. eu penso nas coisas que eu quero. que eu não quero. que eu gostaria de querer, mas não consigo querer. eu penso na ignorância, nas fraudes, na violência, na falta de compaixão, na artificialidade das pessoas feitas de silicone. eu penso o quanto as bundas e peitos fabricados fazem sucesso, e penso que queria ter um par deles, mas desisto de pensar nisso.

eu penso que talvez possa mesmo gerar um tumor no meu cérebro de tanto eu pensar, e imagino esse tumor recheado de pensamentos, e enchendo cada vez mais, e um dia estourando e todos os pensamentos voando para longe, longe, longe...

e então minha cabeça finalmente se esvaziaria e eu pararia de pensar. ficaria apenas um buraco oco e escuro e de lá eu escutaria apenas ecos profundos sobre a minha pulsação pensante.

6.9.10

Grita o Homem Velho

Gritou o homem velho:
- Ei, tem alguém ai?
Apenas o assovio do vento gritou
Ele estranhava então aquela noite fria que tanto o abraçou outrora
Ele sente falta do vinho seda que lambuzava sua alma
Sentiu falta da ganância de conquistar as sombras
Sentiu falta do "recreio" do colégio calado
Ele só ouvia a voz dizendo: - Pule!
Como há amor nos seus olhos? Assim o questionou a morte enquanto pressionava a ponta da foice contra sua garganta...
Ele apenas sorriu e acariciou seu ultimo desejo de viver
E teimava em buscar vida em meio a presentes abertos, no céu dos esquecidos... Entorpecidos pelo veneno dos lábios do chacal!
E sorria ao ponto de gargalhar em prantos suas ultimas palavras no silêncio dos seus sonhos
Beba a minha alma e deixe-me morrer de pé.... Parado, caminhava em mente para dentro de si, buscando respostas para um nada que é tão concreto quanto seus maiores medos.... Desconhecido!

3.9.10

Natimorto

Hoje eu poderia simplesmente jogar um monte de lixo aqui
Gritar tudo que tenho entalado na garganta desde o ultimo por-do-sol
Assim entenderia o que me faz tão humano, tão intensamente morto
Ai eu diria que não há mais caminhos para percorrer
Que não há mais ar para respirar
Delicie-se com a boca cheia de terra seca,
Da fazenda onde passei minha infancia... Tenra e fétida